
Venha cá, Florbela,
vamos conversar.
De onde você tirou estes versos
tão amargos, tão tristes e tão fortes?
Como sabe você,
que ando perdida, que não tenho norte,
que sou a irmã do sonho e desta sorte,
e que sou a crucificada, a dolorida?
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
que o destino impele brutalmente
para a morte?
Que sou aquela que passa
e ninguém vê,
que sou a que chamam sem o ser
e a que chora sem saber por quê?
Você acertou, porque
sou, sim, a visão
que alguém sonhou.
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
mas que NUNCA na vida me encontrou!
(Versos do soneto “EU”, da saudosa poeta portuguesa Florbela Espanca)