A Manoel de Barros

 A poesia entrou em minha infância
E eu não sabia.
Correr atrás de passarinho,
Guardar a pena de uma galinha,
E, com a tinta dos meus sonhos,
Desenhar uma lua linda.
Apreciar a serenidade
De um cavalo,
Decifrando suas palavras
No sussurro dos beiços,
No olhar de vassalo…
Desconhecendo medos,
Postar-me diante de bois,
Vestida de vermelhos…
Comer “azedinhas” em matos,
Sem me preocupar com
A urina dos ratos…
Quando, finalmente, cresci,
E abandonei sua companhia,
Descobri-me vazia de mim…
  
Hoje, tento encontrá-la
Na rotina do dia a dia,
Nos compromissos inadiáveis,
Na folha que tomba no jardim…
Longe ou perto, ela me sorri,
E, com o dedo em meu peito,
Aponta docemente:
                                – Estou aqui!                                  

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