Extrema Ação

  
        Carregava o fardo da solidão acompanhada. Esta viuvez de marido vivo, este desquite de cama de casal ainda ocupada e, por isso, não quite com o coração. Existe ainda a sombra do biombo que reinava no meio da cama. Biombo imaginário, mas instalado com os gestos reais da separação de corpos que não mais se encontravam. Almas desconhecidas, mas unidas pelos frutos do matrimônio que ainda não ganharam o futuro.
        Constantemente, questionava o coração e a mente se havia coerência entre os dois, uma vez que o coração pedia para partir, enquanto a mente racionalizava o ficar.
        A dupla jornada de anos a fio, como se sustentasse o peso do mundo pelo excesso de responsabilidades com o estômago, a cabeça e a vida.
        Ah! Esse amor às avessas de uma felicidade emoldurada nos filhos, em um casamento duradouro! Mera casca de ovo… Tão frágeis as relações que, a mais leve bicada, expõem-se as vísceras, explodindo a ira, desfazendo o ninho..
        Este silêncio de vida, esta eterna busca de si, dos seus eus espalhados no tempo, fragmentados em tantas posturas, meras molduras expostas em horas, às vezes, tão secas, tão mortas…
        Penélope-aranha tece a teia que a enleia com mãos e mente, noturnamente, que lhe traz esperança de mudança, mas que se desfaz na aurora, no embate da realidade…
        Dez, vinte, trinta quarenta anos de procura, de busca…
        E eis que chega o futuro promissor: a casa requintada, o carro importado, o marido próximo, mas sempre afastado…
        O culto ao corpo e a preservação da jovialidade não foram suficientes para manter o interesse do parceiro. Tristeza de ser só, sabendo-se, no final, pó…
        Mas a vida insiste e é necessário que, a ela, se curve. Reinventar alegrias, sonhar mentiras, para se acreditar feliz.
        Se amor não há, Roma existe e Paris insiste em fisgá-la anualmente, com bálsamos perfumados, em cruzeiros marítimos, ou em voltas do cruzeiro do sul.
        Em plena era de aquecimento global que gera a terrível espera da seca total, ela se faz manancial ao completar setenta anos. Abre portas, pois, o coração comporta… recebe amigos, filhos, e transborda, solta a corda, desfaz amarras e reinventa a felicidade.
        Canta, dança e sorri sozinha na pista, na vista dos olhares que despistam…
        E, ele, já calvo, mantém o alvo no novo, esquecendo-se de que se restou raiz.
        Antes do raiar da aurora, apagam-se as luzes, os brilhos e os brios.
        Ao nascer do sol, é necessário limpar a casa, retirar o tão pisado _ por pés jovens e velhos _ e pesado tapete, e recolhê-lo, definitivamente da vida.
        O que assusta na velhice é o isolamento. A falta de acasalamento. É o ensaio para a solidão derradeira!
Fátima Soares Rodrigues

2.112 thoughts on “Extrema Ação

  1. You actually make it seem really easy with your presentation however I in finding this matter to be actually one thing that I believe I’d never understand. It sort of feels too complicated and very extensive for me. I am taking a look forward on your next post, I’ll try to get the dangle of it!|

  2. It’s a shame you don’t have a donate button! I’d certainly donate to this fantastic blog! I guess for now i’ll settle for bookmarking and adding your RSS feed to my Google account. I look forward to brand new updates and will share this blog with my Facebook group. Talk soon!

  3. It is appropriate time to make a few plans for the long run and it’s time to be happy. I have learn this submit and if I could I want to counsel you some attention-grabbing things or advice. Maybe you can write next articles referring to this article. I desire to read even more things about it!|

  4. Home equity release may provide the financial support you’ve been needing. Learn how to tap into the equity tied up in your home without having to downsize.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Website