Às vezes penso que minha mente se encontra em banho-maria, cozinhando bem as minhas ideias para que eu possa servi-las depois, no papel, em forma de poemas, contos…
Assim costuro os meus dias e minhas noites. Em meio à cata do lixo, três vezes por semana; às bocas do fogão, todos os dias, para abastecer as oito bocas que me cercam (nove, com a minha), e o baile entre pia, tanque, ferro e máquinas, cumpro a sina herdada de minha avó, que transmitiu a minha mãe que repassou a mim. Imbuída das minhas responsabilidades domésticas, faço uso de agenda automática, contabilizando horários e orçamentos para honrar certa ordem no lar. Fiz uso dos axiomas ouvidos da boca de minha mãe na educação dos filhos: “a mentira tem perna curta”, “quem muito fala muito erra”, “quando um não quer, dois não brigam”, “Deus ajuda quem cedo madruga”, e, agora, já crescidos e com filhos, repito para mim que cada macaco fica no seu galho, pois, águas passadas não movem moinho, porque quem tudo quer, tudo perde, e nunca digo que desta água não beberei, e nada como um dia após o outro para crer que quem espera, sempre alcança… E nesse oceano de palavras, mergulho de cabeça e tudo. No início da tarde, após a arrumação da cozinha, encho um copo com água, busco os óculos, aproximo o telefone do sofá que me assentarei, abraço três livros: de poesia, um romance e um ensaio, confiro a luminosidade e penetro vespertinamente nesse infinito de palavras que me custa voltar à tona…
Há muito busco encontrar minha história, embutida em alguma página de livro.